Opinião: Brasil e África enfrentam desafios similares no campo das energias

Cícero Bley Junior

Cícero Bley Junior

Cícero Bley Junior — Presidente da Câmara de Comércio Brasil-Luxemburgo – CCBRALUX Paraná

Há quem considere que em termos de energia, o Brasil é uma nação resolvida.

Isto porque não é comum perceber, nem debater que há dois Brasis eletrificados. Um deles é o Brasil que acompanha os contornos geográficos a leste. Conta com mais de 110 mil quilômetros de redes de transmissão. (MME, 2015).

Assentando uma ponta desta rede no Chuí e a outra no Oiapoque, tem-se uma extensão de cobertura de transmissão equivalente de Lisboa a Moscou. Gigantesca estrutura exigida pelas dimensões continentais do País. Porém, percebe-se na mesma figura que a partir do território do Centro Oeste, até os confins da Amazonia, a grande rede de transmissão perde intensidade e se definha em meio ao vasto território. Ali o Sistema Integrado Nacional, não penetra e a energia elétrica não mais é oferecida a uma comunidade de 5 milhões de pessoas, que vivem em comunidades isoladas e que para ter 2-3 horas de eletricidade ao dia, usam óleo diesel. Segundo relatório do ONS, 2018, são gastos 510 milhões de litros de óleo diesel por ano para suprir as demandas locais.

Este segundo Brasil, sem-energia, é muito parecido com o que ocorre em todos os países da África. Desprovidos do suprimento de energia que lhes permite proporcionar e sustentar um desenvolvimento que minimamente possa suprir as mais básicas necessidades humanas, como a conservação de alimentos ou usos sanitários da água quente, por exemplo. Assim, conceitualizar as energias renováveis entre regiões do Brasil e da África é incomparavelmente mais difícil, mais complicado e no entanto mais urgente do que fazê-lo no resto do mundo.

É fundamental que modelos de geração e distribuição de energia elétrica, não se limitem a ser somente renovável, mas que a essa desejada condição sejam agregados conceitos indispensáveis, como o da geração distribuída, que consiste em gerar com recursos locais, os ativos energéticos para serem usados no local. Não há como reproduzir nestas regiões o componente clássico da transmissão.

Outro aspecto indispensável se refere à necessidade de levar em conta as características de cada fonte renovável. A primeira vista salta como prioritária a energia solar como a fonte prioritária. Só que tanto na Amazônia, como na África, o sol nem sempre está como demonstram os Mapas Calorimétricos. E a geração solar depende da presença ou não do sol para se ter energia. Durante as noites e em dias nublados há intermitências. Assim como a energia eólica depende dos ventos. É preciso contar outra fonte de energia renovável em baseload. As baterias a ion de Litio, que teoricamente poderiam fazer quimicamente este papel não cabem na economia brasileira ou africana. As renováveis para baseload, são aquelas as que se pode armazenar. A hidráulica, em reservartórios e o biogás em gasômetros podem servir.

Com destaque para o biogás, que é produzido com a biodigestão de resíduos orgânicos encontrados por todas as partes. Residuos de animais, de pessoas e de plantas (as plantas aquáticas podem sustentar projetos locais).

Enfim, energia renovável é um tema a ser compartilhado entre o Brasil e a África. Não pela pobreza, como seria de se esperar. Mas pela riqueza de recursos naturais e pela abundância de resíduos que o produzem. Isso feito com ganhos, não monetários, como os de Sustentabilidade, a partir da descarbonização das cadeias de produção e ganhos sociais e de governança elevando o nível de vida das populações locais.

Para mais informações sobre o Seminário Energias Renováveis no Brasil e na África, acesse: https://ibraf.org/pt/seminario-energias-renovaveis/